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Foto do escritorHumanismo Caboclo

Biblioteca na praça acolhe e inspira nossas melhores possibilidades humanas

Sempre nos indagam sobre como sustentamos o projeto. A resposta é simples: doações. Felizmente, encontramos pessoas generosas e sensíveis à ideia de leitura. Hoje, na praça do Santa Sofia, um pai doou um grande número de livros literários. Gratidão! Assim, caminhamos por nossas praças: acolhemos as crianças a partir de suas demandas e com nossa sensibilidade para compreendê-las; interagimos com pais e avós, estimulamos as crianças a descobrirem os livros e suas vidas a partir de diálogos e reflexões. Humanismo Caboclo é composto por ações que buscam levar as pessoas a se conhecerem, comprometerem consigo e com princípios de uma sociedade justa e fraterna.



Nessa manhã, com pássaros saudando nossa presença, muito vento e um sol manhoso e solitário num céu em meio a algumas nuvens, montamos nossa Biblioteca Leituras e Descobertas do Mundo na Praça dos Orixás. Aos poucos, nossas maiores alegrias foram chegando: a vó Teresinha veio deixar Maria Luiza; Heitor veio com sua avó e irmã; Ana Gabriele com seu primo (ambos, de bicicleta), seguidos por seu avô e o pequeno Gabriel. A mãe de Heitor chegou mais tarde e doou-nos livros para nossa biblioteca. Esse é o tempero de uma biblioteca na praça: pessoas, famílias e muito desprendimento para conhecer e viver.



Maria Luiza quis começar as atividades desenhando. Lembrei de nossa regra: ler um livro antes de qualquer outra atividade. E leu um livro. “Tio, quero outro!”. Leu um segundo, um terceiro e um quarto livros. Assim também Heitor. Já Gabriele e seu primo não estavam muito disponíveis para leitura: ambos leram um livro. E respeitamos. Ler não deve ser uma tarefa externa e obrigatória. Ler precisa se constituir como uma necessidade subjetiva. A cada dia, temos disposições diferentes. Reconhecer-se a cada dia, dialogar com suas potencialidades e obrigações diárias e encontrar suas melhores maneiras de vivê-las.



Na Praça da Igreja São Raimundo Nonato, na Grande Codipi, resolvemos dividir os participantes entre duas faixas etárias: as crianças menores de dez anos e as crianças e adolescentes a partir de dez anos. A ideia foi favorecer o envolvimento de todos em nossas rodas de conversa. Esta é uma grande troca de ideias e opiniões. Crianças e adolescentes relatam suas experiências e refletem. Importante acentuar suas vivências como uma maneira de levá-los a valorizar suas descobertas e ideias.



Ficamos com a roda de meninas e meninos. Falamos sobre a última semana: do que mais gostaram? O que fizeram de diferente? Em seguida, indagamos sobre os livros que leram. A partir de seus relatos das narrativas, representamos as histórias. A leitora assumia a função de narradora. As demais crianças transformavam-se nas personagens da história. Como é bom vê-las desafiando-se e explorando. Umas mudavam a voz, outras modificavam o corpo para fazer uma vovó... E assim brincavam teatralmente. Teatro é um grande faz-de-conta.



Ao final, representamos a seguinte situação: como convencer sua professora a emprestar livros para cada uma das crianças. Elas nos relataram que as escolas não fazem empréstimos de livros. “Precisamos ler”. “Ler é engraçado”. “Ler ensina”. “Preciso ler para fazer o teatrinho no Projeto de Leitura”. Ao falar, eu me expresso, digo o que penso e sinto, conto meus sonhos e necessidades, favoreço trocas, afirmo o que quero... Pelas palavras cada um de nós existe para si e para o mundo. Já o medo castra. As vergonhas são plantadas e não descobrimos quem somos. Precisamos dar condições para fomentar subjetividades livres e integrais.



Como é bom ver pais e mães com seus filhos lendo e dialogando! Criança precisa de afeto e muitos estímulos. Nossa biblioteca, no Parque Ambiental da Macaúba, tem propiciado momentos de encontro e troca. Ser humano carece de carinhos, envolvimentos e segurança. Criança mais ainda. Assim, formamos pessoas equilibradas e fortes para enfrentar as adversidades. Na mesma trilha, construímos cidadã(o)s sábia(o)s, justa(o)s e empática(o)s. Cidadã(o) não é um papel em branco onde se gravam direitos e deveres. Cidadã(o) é um ser humano que compreende, sente e vivencia as conquistas e contradições de uma sociedade democrática.



As crianças são diferentes. Suas potencialidades e desafios de leitura também são distintos. Precisamos estar atentos. E estimular sempre. Hoje à tarde, na Praça do Postinho, chamou-nos atenção uma criança: pegava um livro, logo em seguida, devolvia. E assim se repetia. Fomos até sua mesa e pedimos que lesse um livro em voz alta. Leu. Conversamos sobre a história. Trocamos ideias sobre a trama e seus personagens. De repente, já estava com outro livro na mesa e lia absorto. Só um estímulo e a dedicação à leitura veio.


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