O projeto “Leitura é Vida” comemora mais algumas produções textuais de seus educandos: “A árvore sem folhas”, de Thaline Beatriz R. de Sousa, e “Joana e seu livro”, de Maria Helouisa Lopes Felix. Eles fazem parte de nosso acervo do Caderno do escritor. E por que comemorar? Não seria esperado que crianças que frequentam escola gostem de escrever e produzam inúmeros textos? Não é pela expressão textual que ampliamos a compreensão do que somos e de como nos posicionamos no mundo?
A princípio, deveria ser assim. A Lei de Diretrizes e Bases de Educação (LDB), que regulamenta a educação brasileira, em seu artigo segundo, define que a educação brasileira “tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando”. Tendo em vista tal fim, o domínio das linguagens, expressar-se com fluência e pensar com liberdade são fundamentais para o desenvolvimento integral da pessoa humana. Mas, infelizmente, nossas crianças demonstram vergonha e/ou medo de produzir textos. Parece que uma narrativa ou uma dissertação são coisas para pessoas tais aquelas encontradas nos livros didáticos ou na literatura infanto-juvenil. É isso mesmo? Os livros que deveriam estimular e incentivar crianças a pensar e expressar-se estão projetando justamente o contrário?
Seria leviano de nossa parte afirmar que sim pelo fato de não se basear numa pesquisa ou em observações mais sistemáticas. Mas, no cotidiano das atividades do “Leitura é vida”, identificamos crianças que resistem a expressar-se por meio de textos escritos. Ou, quando escrevem, demonstram resistência em partilhar seus saberes. Ao serem questionadas, apenas respondem: “não quero” ou com um gesto negativo pelo movimento da cabeça. Ao encorajá-las, elas socializam textos originais e criativos. Será que estamos, em nossas salas de aula, plantando o mito da “resposta certa” que intimida crianças pelo temor de apresentarem uma resposta “errada”? No afã de preparar os melhores (entenda como aqueles que possuem as melhores notas), a escola não está estimulando a autoconfiança tampouco a expressão livre e criativa das crianças?
Este breve artigo socializa algumas inquietações de educadores extensionistas a partir de suas experiências. Acreditamos que pela partilha de informações e discussões dos desafios educacionais possamos ampliar nossa caminhada frente ao pleno desenvolvimento do educando e também dos educadores. Certamente que nosso sistema educacional, com suas inúmeras políticas (de avaliação, formação de professores, incentivo e remuneração dos trabalhadores da educação, livro didático, orientações didático-pedagógicas, bibliotecas e demais equipamentos escolares etc.), possui grande responsabilidade sobre o silenciamento criativo e expressivo de nossas crianças. Mas já merece outras reflexões...
(este caráter de texto inacabado é uma espécie de convite à participação ativa de nossos leitores: comente, discorde, amplie as reflexões...)
Por Luciano Melo
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