Crianças escrevem também. De início, elas próprias estranharam a ideia do caderno da criança leitora.
(penso que essa dúvida é uma erva daninha plantada por adultos que preferem desacreditar as crianças. Por quê? Vamos refletir e que cada um de nós, adultos, encontremos nossas próprias respostas)
– Crianças escrevem, tio da leiturinha? (Amo esse apelido - poucas crianças recordam de meu nome).
– Sim, crianças escrevem.
– Escrever o quê?
– Sobre o que quiser.
– E se escreve assim?
(ah, essas famigeradas tarefas escolares que predefinem temas e modos de escrever!)
– Vamos experimentar esse caminho e vê no que dá?
– Tá bom!
Meu querer desperta minhas ideias, emoções e os dedos se soltam no teclado... as palavras externam o que me faz existir. Não é uma matéria abstrata; é uma espécie de seiva que circula nos meus sonhos, convicções e sonhos e emoções profundas. Estou escrevendo e as ideias-palavras brotam aos borbotões. Sei que, depois, farei revisão para favorecer a clareza de minha expressão. Mas, neste exato momento, escrevo aquilo que me faz sentido, toca-me ou sinto.
Com o “caderno da leiturinha” estimulamos as crianças a explorarem seivas de sentido interior de cada um. O inaudito que nos faz únicos, vivazes, desejosos, criativos e põe-nos em movimento. Mais do que um caderno para tomar notas sobre o que leu, este caderno é expressão viva da singularidade essencial de cada criança.
Ao escreverem cada uma exercita um estado mágico de encontro consigo, de um estado de presença autêntico e tocante. Este é o nosso desiderato mais profundo: o caderno da criança leitora transformar-se num pretexto para estar em contato com o eu autêntico da cada criança leitora.
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