Fotografia: a fé sobre as águas
- Humanismo Caboclo
- 9 de jul. de 2019
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Na maior parte do tempo e percurso, as águas do rio Mearim desfrutam de apaziguador silêncio. Assim, cumpre a sina de desaguar na baía de São Marcos, localizada entre São Luís e Alcântara, ambas cidades maranhenses. Antes disso, nasce na Serra da Menina, entre os municípios de Formosa da Serra Negra, Fortaleza dos Nogueiras e São Pedro dos Crentes. “Com aproximadamente 99.000 Km², está totalmente inserida no território do Estado do Maranhão, correspondendo a pouco menos do 30% do território estadual”, apontam dados do Resumo do Diagnóstico da Bacia Hidrográfica do Mearim.
Para além dos dados frios da matemática, o Mearim ocupa sentidos diversos. Geograficamente é um divisor natural, separando cidades, como é o caso de Pedreiras e Trizidela do Vale. No passado, era a principal via de escoamento quando a região do Médio Mearim vivia o boom das produções de arroz e algodão. A cidades cresceram, o rio emagreceu e parte dos sentidos ficaram pela história, restando apenas relatos dos mais antigos. Mas nem tudo se perdeu.
A procissão fluvial de São Pedro preserva a memória da cidade, dos pedreirenses, ao passo que para os mais novos, além de uma manifestação católica, é uma aula de história às margens do Mearim. É quando o silêncio, citato lá no começo, vai-se, dando lugar a cânticos, preces e fogos de artifício.
A data exata que marca o ponto de partida da festividade é imprecisa. Só passou a ser registrada em 1970, mas antes disso os pescadores já reservavam, anualmente, o dia 29 de junho para celebrar, através da procissão fluvial e missa, o dia do Pescador, também chamado de Dia de São Pedro, que teve a pesca como profissão, segundo os relatos bíblicos.
A igreja Católica, que tem Pedro como padroeiro dos pescadores, adotou essa festividade e desde então essa manifestação de origem popular reúne milhares de pessoas, parte delas em canoas, cotidianamente usadas na pesca e especialmente adornadas para a procissão; outras a aguardam próximas a “Rampa”, lugar onde é celebrada a Missa.
“A fé sobre as águas” traz recortes fotográficos de uma prática repleta de memória, nostalgia e esperança. Nas canoas que “descem” pelo Mearim, o passado, o presente e o futuro acham-se em confluência. Rio e fé em harmonia: ora silêncio, ora euforia. É também um convite para olharmos para a natureza como parte do que somos, dos saberes construídos e das ameaças que sobre ela recaem.
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