Neste último sábado conversamos bastante (quando não conversamos? Quando não buscamos aprimorar nossa comunicação, participação e compreensão mútua?).
Na turma da manhã, na Praça dos Orixás, dialogamos sobre direitos das crianças. Primeiramente, vimos um clipe no youtube sobre essa temática. As crianças leitoras me auxiliaram no manuseio do aplicativo tamanha a familiaridade. Ao apresentar alguns dos direitos, elas lembraram que há muitas crianças autistas na escola. Descreveram suas experiências com uma naturalidade e acolhimento que me impressionaram.
Isabela leu um livro que tem como tema a crueldade na interação entre crianças. Indaguei por que razão algumas crianças expressam crueldade.
– A falta de respeito.
– E como aprender a respeitar?
– Tio, precisa acabar com o preconceito.
Como nos falta compreensão e reflexão! São práticas simples que podem ser estimuladas em todo canto. Inclusive sob a sombra de árvores e ventos fortes das manhãs de julho em Teresina.
Iniciamos nossa roda de conversa com as crianças leitoras do Parque Wall Ferraz com a seguinte questão: existe alguma relação entre a leitura dos livros e o pensamento? Inicialmente, estranharam. Uma criança respondeu que não havia relação. Em seguida, perguntei o que é pensar. Novo silêncio.
Num exercício de invenção teatral transformei-me numa criança e brinquei com algumas delas.
– Ei, diz pra tua mãe que tu vais a minha casa para estudar. Mas é desculpa pra gente poder jogar.
– Não. Não é certo.
– Por quê?
– Porque vou perder a confiança de mamãe.
Quão surpresas ficaram quando revelei que aquela criança construiu um pensamento: mentir rompe com a confiança entre mãe e filha. Outra criança explicou que dois amigos não podem mentir um para o outro. E os exemplos se multiplicaram.
– Tio, vemos nos livros situações que a gente passa na vida. Imagino o que eu faria, o que é certo.
Tão bom observar as crianças elaborando ideias, construindo argumentos, expondo seus modos próprios de ver as coisas ao seu redor, exercitando autonomia, dialogando com outras crianças, desconstruindo receios de expressar o que pensam e sentem... Gratidão a essas crianças que nos ensinam que somos capazes de fazer tantas coisas e de modos bem diferentes daqueles silenciosos e hostis.
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