Nessa tarde de sexta-feira, a chuva que nos vivifica impediu-nos de ir ao bairro Santa Sofia, na zona norte de Teresina. Vimos para o computador com uma sensação letárgica. Alimentamo-nos de sentidos. Hoje faltaram-nos as trocas com as crianças. Esses encontros semanais entre crianças, educador e um mar de narrativas fantásticas e seus autores. Nós, leitores, só conhecemos uma parte significativa desses escritores desconhecidos e a mais fabulosa: suas histórias. Somos seres de sentidos e linguagem. Os livros são criações onde palavras e sentidos passam por reinvenções. As maiores delas são obras de cada pessoa leitora. Em cada bolha existencial de um ator ledor movimentam-se memórias, emoções, ideias... Um mundo particular e íntimo onde ficção e vida encontram-se e criam-se novos enredos. Ah, leitura! Campo fabuloso do viver! Precisamos ampliar a oferta dessas possibilidades do existir humano.
Gratidão aos Orixás que nos acolhem no bairro São Joaquim! Nessa manhã de sábado, a lagoa foi ocupada por alguns pescadores. As crianças ficaram encantadas com os peixes que um pescador levava pra casa. Biblioteca numa praça é ponto de encontros entre ficção e cotidiano dos moradores de um bairro. Também fomos presenteados por um senhor que imita sons de pássaros. Nesses movimentos de uma praça acolhemos vários grupos de crianças. Uma mãe com seus dois filhos. Um avô e seus dois netos. Dois amigos. As individualidades encontram-se com outras individualidades e inventam um campo singular de vivências a cada sábado.
Nessa diversidade de crianças leitoras, novamente a crueldade da desigualdade educacional. A sua grande maioria com alguma distorção entre série cursada e habilidades leitoras. Certamente que a pandemia agravou. Mas, infelizmente, faz parte da lógica do sistema educacional reproduzir desigualdades sociais. O mais doloroso para nós que amamos ler é observar um direito negado. Uma potencialidade humana fundamental – a leitura ampla, criativa e crítica – não é exercitada plenamente em nossas escolas e, por sua vez, por cada ser humano. E nada de culpabilizar professora(e)s! Faz parte da política educacional que não desenvolve projetos educacionais capazes de superar desigualdades estruturais (sociais, econômicas, culturais, gênero, religiosas, étnicas etc.)... Da nossa parte, perseverar em nossas ocupações das praças!
Com os parceiros do “Amigos do Livro e Outras Nuvens”, continuamos nosso debate com as crianças sobre a importância de bibliotecas em cada escola pública. Como é doloroso observar que as crianças gostam de ler e trocar nos nossos encontros sabatinos, mas lutam consigo mesmo para expressar verbalmente o que pensam e sentem!!! Que educação é essa? Mais do que português, matemática, geografia, história, sociologia etc., as crianças precisam compreender-se melhor e conhecer o mundo para se posicionarem como cidadãos e pessoas integrais. Discutir os temas de interesse coletivo é elementar para uma cultura democrática e, por sua vez, consolidar um Estado justo.
Pedimos que cada uma criasse uma pequena frase onde expressasse a importância da leitura. “Felicidade da leitura”. “Sabedoria”. “Conquistar um bom emprego”. “Imaginação”. “Conhecer as vidas dos personagens”. Depois de discutirmos essas ideias, desafiamos para nosso próximo encontro que trouxessem por escrito o que pensam sobre a leitura e suas vidas. A leitura é protagonizada por pessoas leitoras a partir do seu vasto campo de vivências.
Numa tarde fresquinha, ocupamos a praça do Postinho, no bairro Tabuleta, zona sul de Teresina. Nosso segundo domingo nessa praça. “O que vocês vendem?”. “O que fazem aqui?”: essas foram algumas indagações iniciais de nossos visitantes. Mães, pais, tias e muitas crianças. As extensionistas da Uespi descobrindo-se como educadoras. Sim, cada um(a) tem um modo único de ser educador(a). Leituras permeadas por diálogos foram a tônica de nosso encontro. Conhecermo-nos é fundamental para, pouco a pouco, estreitarmos vínculos e explorarmos as alegrias da leitura.
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